quinta-feira, 18 de março de 2010

Sigam a Arte do Sérgio Amaral





Intervir. Reflectir. Intervir para provocar reflexão. Intervir para provocar. Intervir para obrigar a pensar. Tudo isto tem a ver com a Arte. Porque só o homem é que faz Arte, só o homem é criador por excelência, tanto que até cria deuses, à sua própria imagem e semelhança.

Sérgio Amaral é um artista que, como eu próprio já tinha dito há uns anos, tem a obsessão de intervir, tem uma forma especial de sublinhar a sua mensagem «acabando por aparecer com a sua marca própria, como a assinatura exigida à sensibilidade transfiguradora do artista que, antes de mais, é um homem preocupado com o seu tempo.»

O criador dos Matarrachos, «esses estranhos seres que vieram em paz para a companhia dos homens, criados um pouco ao seu jeito» apresenta-nos agora o Projecto Segue-me, com que nos quer alertar para o perigo de seguir cegamente alguém ou alguma ideia, sem reflectir ou questionar os objectivos.

Num mundo como o que hoje vivemos, carregado de insegurança, o que leva muita gente a ansiar por seguir um chefe, como se isso fosse o suficiente para a felicidade comum, tem este aviso a conveniência de pôr em causa tal pretensão natural, mas perigosa, alertando-nos para o dever de seguir apenas o que a nossa consciência nos ditar como mais digno e mais justo, sem obediências a mitos e a meras ideologias abstractas.

O que, diga-se de passagem, pode ser, também, uma mera utopia. Mas o que interessa é isto mesmo: pôr também em causa esta mesma utopia, como forma de partir para novos horizontes e encontrar novas soluções. Como dizem os filósofos: a felicidade é uma coisa que nunca se alcança, a sua procura é que nos dá a verdadeira felicidade.

O homem dos Matarrachos, que se serviu sempre da cerâmica, a velha arte do fogo, que as religiões do Livro referem como base da origem da Humanidade, serve-se agora também do desenho e da pintura, numa forma de alargar o seu âmbito e dar largas às suas justas ambições de querer ir mais além, de completar a sua mensagem.

Sérgio Amaral, que realiza na cerâmica o máximo da sua capacidade de expressão, por razoes que têm a ver com o telurismo da região em que habita, mas também com as extensas possibilidades que a arte do fogo proporciona, abrindo campo a explorações estéticas de vários matizes, especialmente no que diz respeito aos volumes e cores, procura agora outras formas e outros meios para realizar mais totalmente a sua expressão.

Naturalmente ambicioso, este projecto exaustivo é, antes de mais, o corolário dos sonhos de um simples artesão, mas cuja perseverança, aliada a uma grande gana criativa, de alma e coração, o levaram a atingir píncaros inusitados como artista, depois de aprender saberes antigos e de manusear ferramentas com a habilidade natural dos verdadeiros dotados.



Rodrigues Vaz